Teses


Palavra e Sedução: Uma Leitura dos Prefácios Oitocentistas (1826 - 1881)
Germana Maria Araújo Sales

Orientadora: Profa. Dra. Márcia Abreu.
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Teoria e História Literária.

Resumo:

Este trabalho é o resultado de quatro anos de pesquisas, leituras e reflexões, a fim de compreender as imagens de leitura impressas nos prefácios brasileiros do século XIX. Na leitura dos prefácios, proponho a análise de três categorias: o perfil dos leitores, a imagem do autor e a construção do gênero romanesco na primeira metade do século XIX, através do próprio discurso do escritor.

Os prefácios funcionam, também, como o lugar onde são exercidos os debates que buscam dar forma à estética romanesca que vai sendo reconhecida ao longo do século. É por meio desses prólogos que podemos acompanhar o processo longo e progressivo de alteração das imagens, opiniões e pensamentos dos romancistas e do gênero romance. Sob este ponto de vista, os prólogos dos romances do século XIX devem ser examinados como elementos da história do romance e da formação do público leitor. Através desses textos, é possível investigar como ocorreu este processo de formação.

A primeira função observada é a definição de leitor. Quem seria o leitor pretendido e/ ou construído pelos romancistas do século XIX em seus prefácios? Como podemos averiguar as marcas da trajetória empreendida pelo autor a fim de seduzir e capturar um público-leitor? Será que folhetim e romances faziam parte apenas da leitura feminina ou abarcavam um grupo amplo e misto, formado por homens e mulheres?

O papel desempenhado pelo autor é a segunda função analisada neste trabalho. Nos textos dos prefácios, são apresentadas algumas caracterizações do escritor de ficção. Dentre outras funções, o escritor desempenha a tarefa de encantar o leitor através de um discurso persuasivo. Para tanto, o autor faz promessas e postula argumentações convincentes.

Por fim, a terceira e última função consiste em observar como o gênero romanesco foi tratado pelo escritor no texto do prefácio. Os prefácios se configuram também como um importante espaço de debates dos procedimentos da criação do novo gênero romanesco em terras brasileiras.

Para a composição do corpus da pesquisa serão analisados os prefácios de romances publicados entre 1822 e 1881; escritos por autores consagrados e romances escritos por romancistas menos conhecidos do público e pela crítico no seu valor de escritor.

Os prefácios - também chamados prólogos, advertências, proêmios, carta ao leitor, preâmbulos, discursos preliminares - que geralmente introduzem o texto do romance, assumem finalidades que vão além de uma simples introdução, configurando-se, algumas vezes, como uma forma de explicar a obra e debater questões de crítica literária. Os textos introdutórios configuram-se como parte funcional da obra, maneira de o autor se explicar, se justificar, debater idéias, queixar-se, e também seduzir o público leitor

Summary:

This work is the result of four years of researches, readings and reflections, in order to comprehend the reading images printed on Brazilian prefaces in the 19 th century. When reading prefaces, I suggest the analysis of three categories: profile of the readers, the image of the author and the construction of the romantic style during the first half of the 19 th century, through the author's own discourse.

Prefaces also work as the place where debates are practiced, trying to shape the romantic style which has been recognized during the century. By means of these prologues, we are able to follow the long and progressive process of change of the images, opinions and thoughts of romancists and the romantic style. Under this point of view, the prefaces of the 19 th century romances should be examined as elements of the history of the romantic style and the formation of future readers. Through these texts, it is possible to investigate how this formation process took place.

The first thing analyzed was the definition of reader. Who would be the target reader and/or the sculpted reader formed by the 19 th century romancists in their prefaces? How can we verify the signs of the way covered by the author in order to seduce and capture the readers? Would serial publications and romances be part of the feminine universe only or would they be part of a larger mixed group of readers, men and women for example?

The role played by the author is the second analysis made in this work. In the texts of the prefaces, some characterizations of the novelist are shown. Among other roles, a writer must enrapture the reader by using a persuasive speech. In order to do so, the author makes promises and postulates valid argumentation.

At last, the third and final analysis is about how the romantic style was handled by the author in the preface. Prefaces are also important spaces to debate the procedures of the creation of the new romantic style in Brazil.

In order to produce the corpus of this research, it will be analyzed the prefaces of romances published between 1822 and 1881, written by renowned authors, well known by the public and critics, as well as romances written by not so famous authors.

Prefaces – also know as prologues, forewords, proems, letter to the reader, preambles, prelusion – which in general, introduce the text of the romance, have purposes that go beyond a mere introduction. They are, sometimes, the way to explain the literary work and to debate questions of literary criticism. The introductory texts work as a guide to the literary work, the way the author explains and justifies herself, to debate ideas, to complain and also, to seduce the reader.

 

ÍNDICE

Leia a dissertação completa na Biblioteca Digital da UNICAMP.
INTRODUÇÃO
01
CAPÍTULO I - Duas Palavras entre dois amores: o autor e o leitor
03
1. O caminho dos leitores
03
2. Leitor entre o real e o imaginário
24
2.1 A leitura feminina: os belos olhos pretos brasileiros
25
2.2 O leitor, uma flor no meio do caminho
34
2.3 O leitor de olhos bem abertos: ler e julgar
34
2.4 Ler para entreter e distrair
41
CAPÍTULO II - Em cena o Autor
55
1. Os primeiros passos
55
1.2. O autor: criador e criatura
60
2. A autoria feminina
69
3. O autor, também personagem
69
3.1. A falsa modéstia
78
3.2. A escrita e labor
93
3.3. O autor amador
96
3.4. A metáfora familiar
102
3.5. Argumento de autoridade e auto-afirmação: o sujeito reconhecido
107
3.6. O autor reconta e recria: "quem conta um conto aumenta um ponto"
109
3.7 "Eu não sou eu, sou o outro"
114
CAPÍTULO III - Romances, Novelas, Folhetins
125
1. A circulação do romance
125
2. A prosa de ficção brasileira
126
CONCLUSÃO - Última etapa?
181
BIBLIOGRAFIA
187
ANEXOS
199
1. Cronologia do romance do século XIX
201
2. Antologia de prefácios
203